Skip to Content

Biografia de Dante Moreira Leite - Parte II (1955-1976)

Imagem
Parte I (1927 a 1954)
Menu Principal

 

1955-1958

Após obter o título de doutor, Dante conseguiu uma bolsa de estudos para seu  pós-doutoramento e foi estudar nos Estados Unidos, na University of Kansas, nos anos de 1955 e 1956. Nesta universidade, realizou cursos com Fritz Heider (psicologia teórica e psicologia das relações interpessoais), Roger Barker (psicologia experimental e psicologia da criança), Bert Kaplan (psicopatologia e influências culturais na doença mental) e Anthony Smith (dinâmica de grupo).

O trabalho de Roger G. Barker lhe foi particularmente útil para entender o que anos mais tarde se tornaria uma obra importante sobre a ecologia psicológica. A teoria de Fritz Heider[1], por sua vez, ajudou-lhe enquanto nova perspectiva para entender alguns problemas de percepção de grupo que tinham ficado em suspenso em sua tese de doutoramento. Para Dante, ficou a crença de que a linha teórica de Fritz Heider, apesar conduzir a perspectiva de uma psicologia ingênua, não contaminada pelos esquemas teóricos da psicologia científica, continou a ser uma forma produtiva de estudar as relações interpessoais, mas útil também a outros domínios da psicologia – como a motivação, a percepção social etc (1973, p. 4). No caso de Roger G. Barker, sua influência ocorreu na medida em que despertou em Dante um interesse pela psicologia da criança e por “certa psicologia experimental”.

O grande aprendizado neste período para o pensador Dante Moreira Leite foi não conseguir confirmar a hipótese de que atribuímos as qualidades que nos recusamos a ver em nós aos grupos minoritários. Era uma teoria simplista que visava explicar a percepção caricatural ou errada das pessoas, ou como construímos erroneamente os nossos estereótipos como uma forma da percepção social ou percepção das pessoas.

 

1959-1975

Entre os anos de 1959 e 1971, Dante foi responsável pelas disciplinas de Psicologia e de Psicologia Educacional da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, no Departamento de Pedagogia desta Faculdade. Ainda em 1964, obtém o título de Livre-Docente em Psicologia Educacional, com o estudo Psicologia e Literatura, que segundo o próprio autor é a fundamentação teórica de um estudo muito mais amplo, A literatura infantil e o desenvolvimento da criança. Ele realizou investigações e trabalhou por muitos anos em torno deste tema, tendo publicado alguns artigos como resultados parciais. Dante estava convencido da necessidade de encontrar algumas hipóteses fundamentais, capazes de permitir a análise da leitura de histórias (1950, 1950, 1960 e 1961).

Uma de suas maiores contribuições para a Psicologia Social foi concretizada com a publicação de sete obras, dentre os quais cabe destacar ao menos dois livros: O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologiae Psicologia e literatura (cujo livro original fora publicado em 1965), através do qual empreende uma minuciosa interrogação em torno daquilo que marca e distingue o indivíduo criativo, bem como o pensamento criador e suas produções, conforme relatam Schmidt e Stockler das Neves (2000, p. 85). Dentro desta dúbia abordagem, Dante aponta que as teorias científicas seriam pautadas por uma noção de progresso que permitiria uma ordenação de inovações e superações das mesmas numa espécie de continuum de aperfeiçoamento. Dante retorna ao Brasil e se torna chefe do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP em 1971. Mantém-se neste cargo até o ano de 1974.

Dante Moreira Leite participa de sua última atividade no IPUSP como membro da banca que aprovou a contratação do então jovem professor Cesar Ades, numa sexta-feira. No domingo, dia 24 de fevereiro de 1976, falece aos 48 anos de idade, em São Paulo.

 

Dante como tradutor

Seus trabalhos com a tradução começam efetivamente em 1960, quando traduz e é publicada a obra “Psicologia social”, do original de Solomon E. Asch. Muito ativo como tradutor traduziu, só ou com a colaboração de Míriam Moreira Leite, 48 títulos, quase todos de Psicologia, que formaram toda uma geração de psicólogos e educadores, segundo Paiva (2000). Estas abarcavam um largo espectro de temas psicológicos, tais como: psicologia social, educacional, da personalidade, do desenvolvimento, da aprendizagem, da psicologia clínica, dentre outras áreas da ciência psicológica. Parte de sua preocupação como docente, sobretudo nos cursos de graduação então aqui ministrados, consistia em levar aos alunos uma tradução de qualidade aliada ao fato de poder apresentar nos círculos universitários brasileiros as teorias e práticas hegemônicas já existentes, pois haviam poucos livros aqui publicados neste sentido. Outra preocupação era com o restrito vocabulário especializado até então aqui conhecido. Buscou ampliá-lo o máximo possível e também obter com editores a permissão para indicar livros a serem traduzidos, dos quais cabe salientar “os manuais de Krech e Crutchfield, Anne Anastasi e Coleman; entre os livros teóricos, os de Heider e Baldwin”, conforme aponta o próprio autor (1973, p. 9). Não havia no Brasil uma terminologia especializada em Psicologia. Esta surge no País no final dos anos 70, com a tradução do vernáculo da APA (American Psychology Association), atualmente disponível on-line no site da BVS-Psi ULAPSI Brasil.

  

Por Antonio Marcos Amorim Aparecida Angélica Zoqui Paulovic Sabadini
Abril de 2011

 


[1] A teoria do equilíbrio de Fritz Heider (publicada e traduzida por Dante Moreira Leite em 1970) expressa, pela abordagem fenomenológica das questões da psicologia, que o ponto de partida (e de retorno) da psicologia científica deveria ser a psicologia ingênua das pessoas, sobretudo relacionada com outras pessoas. Os dados do psicólogo, em outras palavras, devem ser procurados onde se encontram anteriormente a qualquer sofisticação do pesquisador: no vivido singela e quotidianamente pelas pessoas de qualquer condição.