Diversidade do DNA Mitocondrial de Populações Brasileiras Ameríndias e Afrodescendentes
A população brasileira apresenta grande diversidade genética, devido à sua formação, que contou com a participação de três grandes grupos étnicos (europeus, africanos e ameríndios), cuja contribuição se fez de forma desigual pelas diferentes regiões do País. No Brasil, ainda hoje, existem populações semi-isoladas de ameríndios e afrodescendentes que preservam, em graus variados, seus aspectos culturais e genéticos. Estas populações constituem-se importantes fontes de informação sobre os estes grandes grupos étnicos fundadores da população brasileira. Com o intuito de verificar a diversidade do mtDNA e o grau de miscigenação de populações brasileiras ameríndias e afrodescendentes, foram analisadas amostras de 392 indivíduos não aparentados pertencentes a seis comunidades ameríndias Pataxó (Boca da Mata, n=61; Barra Velha, n=39; Águas Belas, n=20; Pires, n=21; Imbiriba, n=17; Coroa Vermelha, n=26) e quatro remanescentes de quilombos (Kalunga, n=60; Mocambo, n=51; Rio das Rãs, n=71 e Riacho de Sacutiaba, n=26). Foram examinados ao todo 23 RSPs e uma inserção/deleção, responsáveis pela caracterização dos principais haplogrupos ameríndios, africanos e europeus do DNA mitocondrial. Com relação aos ameríndios, os resultados obtidos demonstram haver uma homogeneidade entre as aldeias Pataxó, 12,5% de contribuição africana e uma maior proximidade com populações ameríndias do Brasil Central, especialmente a tribo Kraho, que possui a mesma afiliação lingüística dos Pataxó. Já as comunidades afrodescendentes demonstraram heterogeneidade entre si e 15,6% de contribuição ameríndia. Os dados genéticos obtidos no presente estudo corroboram os dados históricos que sugerem a formação destas comunidades a partir de indivíduos provenientes das regiões Centro-Oeste e Sudeste africanas. Mais especificamente, Kalunga e Rio das Rãs a partir de indivíduos provenientes de Angola e Riacho de Sacutiaba a partir de indivíduos de Moçambique. Ao analisarmos os resultados do presente estudo com dados da literatura, percebe-se grande heterogeneidade entre as diferentes regiões brasileiras com relação ao componente africano do mtDNA e uma origem predominante a partir de indivíduos oriundos da região Centro-Oeste africana. Estimativas de mistura étnica (baseadas em Y-STRs), realizadas por outros pesquisadores, nestas mesmas comunidades ameríndias e afrodescendentes, demonstraram grande contribuição européia. Assim, ao compararmos estes últimos resultados com os do presente estudo, verificou-se que nestas comunidades ocorreram os mesmos padrões relatados em populações urbanas, onde foram observadas uniões preferenciais entre homens europeus e mulheres ameríndias ou africanas.