A Investigação da Natureza no Brasil-Colônia."
Depois de uma visão panorâmica e geral dos primeiros relatos sobre a natureza do Brasil-Colônia produzidos no Século XVI, passou-se a um estudo mais sistemático das obras portuguesas do final do Século XVIII. A motivação que levou a se tratar desses dois períodos foi dada pela necessidade de demarcar-se a existência de dois modos distintos de produção de saber "incomensuráveis" um ao outro, contrariando portanto a historiografia "clássica" da biologia no Brasil, que tende a tratar os primeiros como conhecimentos "pré-científicos". Trata-se de abordar o mundo renascentista em sua especificidade própria cuja modificação, em Portugal, ocorreu praticamente apenas nas três ultimas décadas do século XVIII, com a introdução da ciência moderna através da Reforma Estatutária da Universidade de Coimbra. Sob a coordenação de Domingos Vandelli, foram então treinados os primeiros naturalistas profissionais, muitos deles "brasileiros", para a exploração dos recursos naturais das colônias, como fontes alternativas ao desenvolvimento político-econômico da Coroa Portuguesa. Foi escolhida, para um estudo mais detalhado, a obra do pernambucano Manuel Arruda da Câmara, por seu conteúdo científico estar em conformidade com o grande desenvolvimento alcançado pela História Natural européia contemporânea, por conter alguns dentre os primeiros esforços para a conservação de espécies no Brasil e por exemplificar a conexão estreita, e respectivos conflitos, entre as propostas científicas, que almejavam a divulgação e o desenvolvimento das ciências, e as concepções políticas mercantilistas, que, regidas pelo interesse estritamente exploratório, determinavam a manutenção das descobertas sob sigilo, freando e, por fim, levando ao insucesso esse grande projeto que poderia ter dado nascimento à primeira geração de naturalistas habilitados a dar prosseguimento à institucionalização das ciências no Brasil