Diversidade do mtDNA em Região com Malária Endêmica da Amazônica Ocidental Brasileira
Historicamente, a dinâmica demográfica da região Amazônica esteve sempre condicionada aos períodos de prosperidade e decadência econômica por ela experimentado, que eram acompanhados de fluxos e refluxos de migrações, o que ocasionou diversos gargalos populacionais. Considerada uma das áreas de mais antiga ocupação européia no Brasil (Ribeiro, 1995), os primeiros relatos sobre a ocupação dessa região datam de 1650 (Teixeira e Ribeiro da Fonseca, 1998), instalando-se ali jesuítas, soldados portugueses, escravos e colonos portugueses, formando núcleos de ocupação permanente (Pinto, 1993). Entretanto, esta colonização ocorreu de maneira pouco significativa à época, vindo realmente a ser ocupada através de novas fronteiras de civilização em meados da década de 70 (Martine, 1994). Em um país com proporções Continentais, como o Brasil, os estudos preliminares que determinaram freqüências de linhagens do mtDNA são poucos, sobretudo os referentes a populações urbanas são raros. Portanto, os resultados obtidos não refletem a história de povoamento do território brasileiro como um todo. Foram estimadas as freqüências de linhagens comuns de mtDNA, foram analisadas cinco amostras da população urbana da cidade de Porto Velho: (1) 67 indivíduos de Candelária que são descendentes de trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, (2) 30 indivíduos de Bate Estaca bairro vizinho a Candelária, (3) 30 indivíduos de São Carlos, distrito ribeirinho de Porto Velho, (4) 306 mulheres que procuraram o serviço da maternidade do Hospital de Base e (5) 31 doadores aceitos ou não pelo banco de sangue (Hemeron), e duas amostras de remanescentes de quilombos: 24 de Pedras Negras e 11 de Santo Antônio. Foram analisados 18 haplogrupos do mtDNA pelo técnica de PCR-RFLP, que caracterizam as linhagens mais freqüentes do entre ameríndios, europeus e africanos. As freqüências dos haplogrupos do mtDNA indicam que a contribuição Ameríndia é predominante tanto na região de Porto Velho (62,5%) quanto nos remanescentes de quilombos do Vale do Guaporé (57,2%). É seguida pela contribuição africana, e em poucas proporções a contribuição européia, tanto em Porto Velho quanto entre os Remanescentes de quilombos. Os valores de FST revelam que as amostras são homogêneas entre si. Já o teste de diferenciação populacional indicou diferenças entre as amostras de Porto Velho e os remanescentes de quilombos do Vale do Guaporé.As proporções relativas dos haplogrupos característicos de ameríndios mostraram similaridade entre as amostras do presente estudo e os ameríndios Parakanãs, Wai Wai e Kanamarí da Amazônia, Quéchuas do Peru, Yurucarés da Bolívia e os Krahos do Brasil Central. A presença dos haplogrupos H, J e K evidenciam a contribuição européia, provavelmente Portuguesa e Espanhola, para a formação das populações desta região, mas as análises não revelaram similaridade entre as proporções relativas dos haplogrupos considerados marcadores europeus com aquelas das populações européias atuais. Os valores de FST e os testes de diferenciação apresentaram similaridade entre as amostras do presente estudo e populações da Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Do mesmo modo indicam ausência de similaridade com populações da região Norte da África. As estimativas de diferenciação populacional e os valores de FST indicaram que os remanescentes do Vale do Guaporé são mais similares aos remanescentes do estado do Pará. Em relação aos remanescentes revelam que as contribuições ameríndias e africanas são predominantes.