A formação Sete Lagoas (Grupo Bambuí) e as variações paleoambientais no final do proterozóico.
O fim do proterozóico foi caracterizado por pelo menos três importantes eventos glaciais (Sturtian, Marinoam, Gaskiers), rapidamente sucedidos por uma ampla sedimentação cabornática. Esses depósitos marcam mudanças climáticas importantes durante os períodos Criogeniano e Ediacarano, que provavelmente repercutiram na evolução da biosfera. Os carbonatos que capeiam os sedimentos glaciais em diversos continentes apresentam uma assinatura isotópica de carbono semelhante, tipicamente negativa, e uma série de estruturas sedimentares "anômalas", dentre as quais leques de cristais de aragonita. No entanto, as condições paleoambientais e os processos relacionados à geração de tal registro ainda apresentam controvérsias. Nesta tese, A formação Sete Lagoas (base do Grupo Bambuí), depositada sobre os diamictitos do Grupo Macaúbas no Cráton do São Francisco, foi alvo de um estudo detalhado envolvento sedimentologia, estratigrafia, geoquímica, geocronologia, isotópos estáveis e paleomagnetismo. Essa Unidade contém uma espetacular ocorrência de leques de cristais (pseudomorfos) de aragonita. A formação Sete Lagoas em sua área-tipo compreende uma espessa sucessão carbonática subdividida em duas sequências transgressivas. A primeira sequência repousa diretamente sobre o embasamento cristalino (que corresponde a uma superfície de erosão equivalente do registro glacial Macaúbas). No início da evolução da bacia, o relevo irregular do embasamento propiciou a instalação de ambientes restritos, onde a conexão com o mar era limitada. Nesse cenário, propõe-se que a precipitação dos carbonatos ( e a formação dos leques de cristais de aragonita) logo após o degelo foi fortemente influênciada por atividade microbiana, com a geração de um gradiente redox logo abaixo dainterface sedimento-água. Na zona redutora, o excesso de alcalinidade favoreceu a precipitação de calcita micrítica, enquanto a zona oxidante um forte gradiente ) sulfático favoreceu a precipitação de aragonita. Esse gradiente redox é refletido nas anomalias de Ce, nos isotópos de Fe e na mineralogia magnética. Os níveis de cristais apresentam valores de ’DELTA POT.56 Fe<-0,3%o, associados a magnetita e hematita produzidas por bactérias dissimilatórias de ferro. Por outro lado, o micrito apresenta valores menos negativos (’DELTA POT.56Fe>-0,%o’), associados a sulfetos de ferro formados a partir da atividade de bactérias sulfato-redutoras. As razões isotópicas de carbono para esses depósitos refletel essa assinatura biogênica, com valores de ’DELTA POT.13C’ em torno de -4,5%o. Com o avanço da transgressão e o estabelecimento da conexão marinha, a deposição passou a ser influênciada por tempestade e maré, e os valores ’DELTA POT.13C’ representam a assinatura normal dos oceanos em torno de 0%o. Uma datação direta da base da sequência carbonática Sete Lagoas indica que a deposição das rochas ocorreu há 740 ± 22 Ma atrás, permitindo correlacionar essa unidade aos depósitos pós-glaciais do Criogeniano (Sturtian). A segunda sequência transgressiva afogou a rampa carbonática, depositando inicialmente carbonatos e argilos em água profunda e depois calcários negros, ricos em matéria orgânica, depositados em ambiente costeiro e de rampa interna. Esses depósitos deram lugar a expressivas construções estromatolíticas correspondentes ao topo da unidade. Oambiente deposicional da segunda sequência foi marcado por forte aporte de matéria orgânica, resultando em valores de ’DELTA POT.13C’ bastante elevados nos carbonatos, atingindo até +14%o. Esses resultados têm implicações importantes quanto à sincronia dos eventos glaciais Neproterozóicos e o significado das assinaturas isotópicas e das estruturas sedimentares "anômalas" dos carbonatos de capa.