Os anos compreendidos entre 1956 a 1965 consolidaram-se como um marco na
trajetória profissional do arquiteto, caracterizado por sua participação
na construção de Brasília, a nova cidade-capital do Brasil idealizada
por Lucio Costa e Oscar Niemeyer durante o governo de Juscelino
Kubitscheck; além do seu engajamento na fundação da UnB (Universidade de
Brasília), inicialmente concebida por um grupo de intelectuais liderados
pelo antropólogo Darcy Ribeiro e pelo educador Anísio Teixeira, para
funcionar como uma estrutura inovadora do ponto de vista pedagógico e
arquitetônico.
Logo após concluir a graduação, Lelé foi contratado pelo IAPB (Instituto
de Aposentadoria e Pensões dos Bancários), a convite de Aldary Henrique
Toledo, um arquiteto modernista com quem mantinha um vínculo de amizade
desde os tempos de faculdade. Em 1957, ele deixa o Rio de Janeiro em
direção a Brasília para atuar como arquiteto responsável pela construção
da superquadra 108 Sul, seus respectivos blocos de apartamentos e
equipamentos complementares.
Ao chegar à nova capital, Lelé começou a introduzir métodos
racionalizados, tanto para projetar e executar acampamentos
pré-fabricados com a infra-estrutura básica de uma pequena cidade para
abrigar cerca de 2_000 operários, quanto para viabilizar a implantação
dos canteiros de obra. A utilização de fôrmas metálicas na confecção das
peças pré-moldadas de concreto foi uma saída encontrada pelo arquiteto
para evitar o desperdício indiscriminado da madeira, garantir a rapidez
de execução, a redução dos custos e a precisão técnica-construtiva dos
onze blocos de apartamentos padronizados desenhados por Oscar Niemeyer.
Em 1958, Lelé afastou-se do cargo que ocupava no IAPB para dedicar-se a
sociedade firmada com dois amigos. No ano seguinte, retoma suas
atividades na coordenação das obras de Brasília por apenas dois anos,
pois em 1961 ele pediu demissão por conta de problemas familiares e em
virtude da desaceleração do ritmo das construções da nova capital
durante a gestão do presidente Jânio Quadros.
Com início das obras da Universidade de Brasília, Lelé foi convidado em
1962, por intermédio de Oscar Niemeyer, para integrar-se à equipe
responsável pelo detalhamento técnico do escritório do CEPLAN (Centro de
Planejamento da UnB), constituído inicialmente pelos arquitetos Ítalo
Campofiorito, Glauco Campello, Virgílio Soza Gomes, Abel Carnaúba,
Evandro Pinto, Oscar Borges Kneipp, Jaime Zettel, Carlos Bittencourt e o
artista plástico Athos Bulcão.
O CEPLAN foi um centro destinado a elaborar e fixar um padrão para todos
os edifícios da UnB, dentro das normas urbanísticas de Lucio Costa, além
de orientar e conduzir os cursos da faculdade de arquitetura. A partir
da criação deste órgão foi possível introduzir um novo ritmo de trabalho
em Brasília, baseado em sistemas de pré-fabricação, visando construções
rápidas, econômicas, funcionais e esteticamente simples.
Ainda no ano de 1962, Lelé ministrou a disciplina de graduação de
Tecnologia da Construção, coordenou o curso de pós-graduação da UnB,
assumiu a função de Secretário Executivo do CEPLAN, como também
desenvolveu dois projetos autorais amparados nas técnicas de
pré-fabricação e no conhecimento agregado durante a construção do
escritório do CEPLAN.
Seu primeiro projeto para UnB foi o Galpão de Serviços Gerais,
construído a partir da incorporação de elementos pré-fabricados leves de
concreto armado, arrumados em função do esquema tradicional de pilares e
vigas em madeira, feita com peças isostáticas. Nessa obra Lelé propôs
subsistemas construtivos independentes entre si de modo que cada um
deles cumprisse uma função específica sem interferir no desempenho dos
demais, proporcionando ao prédio um alto grau de flexibilidade
condizente com as exigências multifuncionais do programa. Já os
Apartamentos para Professores (Colina) foram executados a partir de
grandes componentes pré-fabricados de concreto armado. A idéia principal
do projeto baseava-se na obtenção de espaços flexíveis através da
elaboração de um arcabouço estrutural independente e aplicação de
divisórias removíveis que permitissem a adaptação dos ambientes internos
em função dos modos de vida de cada família.
Em 1963 Lelé viajou, por intermédio de Darcy Ribeiro, para o Leste
Europeu e União Soviética buscando adquirir conhecimento necessário à
implantação da fábrica de pré-moldados do CEPLAN. Essa experiência foi
importante para que ele pudesse aprender sobre os aspectos técnicos da
produção industrializada em larga escala e desenvolver sistemas
construtivos compatíveis com a realidade brasileira. No entanto, a
intenção de construir a fábrica do CEPLAN não frutificou, assim como
tantas outras propostas lançadas na época, devido à abrupta tomada do
poder pelos militares em 1964.
Quando o clima de tensão se intensificou por causa das ações
autoritárias do regime militar, Lelé pediu demissão juntamente com 209
professores e funcionários da Universidade de Brasília em 18 de outubro
de 1965, tornando-se alvo de perseguição política até 1968. Nos anos de
1965 a 1975, Lelé desenvolveu alguns projetos de Oscar Niemeyer e tantos
outros de sua própria autoria, bem como ocupou o cargo de arquiteto
consultor da Fundação Hospitalar do Distrito Federal de 1969 a 1972.
Em 1965, Lelé projetou em Brasília a casa do chefe do Serviço Nacional
de Informações (SNI) do governo Médici. A Residência do Ministro de
Estado é uma dentre tantas realizações resultantes da tendência nacional
firmada durante o Estado Novo e que perdurou por toda a década de 1960,
na qual jovens arquitetos tinham o Governo como principal cliente que os
deixavam livres para experimentar todas as possibilidades das técnicas
modernas e criar edifícios magnificentes financiados pelos cofres
públicos. Este projeto de caráter racionalista apresenta uma proposta
estrutural bastante arrojada, formada por uma grande caixa envidraçada
delimitada por pilares de concreto articulados e vigas vierendeel
destacadas na fachada longitudinal. Os brises fixos de madeira
treliçada, as varandas generosas, os espaços ajardinados e os murais de
azulejo são componentes que também foram incorporados a esta obra como
um traço da tradição arquitetônica brasileira.
Nesse mesmo ano, Lelé aceitou a incumbência de projetar a Sede da
Disbrave/Volkswagen (1965-85) - DF, executada em três momentos distintos
ao longo de 20 anos. Esta obra embora obedeça a um programa de
necessidades rígido destinado a abrigar atividades industriais,
apresenta uma lógica construtiva bem distinta em relação às tipologias
de igual natureza produzidas no mesmo período. As intervenções no
projeto realizadas a partir da combinação de várias técnicas
construtivas – tijolo cerâmico, concreto moldado in loco e argamassa
pré-fabricada - não apenas garantiram ao prédio uma notável
expressividade plástica, mas também um melhor desempenho funcional em
termos de flexibilidade dos espaços e conforto ambiental.
CONTINUA ...
Diferente das demais produções realizadas pelo arquiteto no período, a
Residência de Nivaldo Borges, erigida em Brasília no ano de 1975, é uma
obra singular que retoma a antiga arte de construir a partir do uso
extensivo de tijolos cerâmicos na forma de arcos e abóbadas de raiz
catalã.
CONTINUA ...
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