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O tombamento

Figueira da Glette.

Sempre tive um medo: que a Figueira fosse cortada, fosse destruída, sei lá por que? Sabia que havia um tombamento estadual de 1989, mas com algumas brechas. Pedimos, então, o tombamento municipal. Em novembro de 2007, quatro anos depois do primeiro pedido de tombamento, fomos argumentar de viva voz e expressar o nosso sentimento de enraizamento, de memória que liga os gletianos de maneira afetiva a um passado certamente decisivo na formação de cada um.  Afinal a Figueira é a nossa referência. Não temos mais o Palacete, o espaço material de uma vivência cultural, social e humana. Foi demolido em uma época em que ainda não havíamos acordado para o valor da memória em uma cidade. Fosse hoje, a própria USP o teria preservado como testemunha de uma parte de sua história, de um momento da Instituição. Sentimos a Figueira como uma referência passado-presente-futuro, numa esperança de que os atuais uspianos entendam o valor da memória e a mantenham através dos tempos. A primeira autorização para o processo de tombamento foi dada no dia 18 de dezembro de 2007, depois de uma reunião com o Conselho do CONPRESP (Conselho Municipal de preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo). De lá para cá – três anos depois – estamos dando pequenos passos para vencer a burocracia. Temos agora que apresentar um laudo sobre a saúde da Figueira. Difícil mas não impossível. Um especialista do IPT esteve cuidando disso e para chegar até os galhos mais altos solicitamos a colaboração do Corpo de Bombeiros, o que realmente aconteceu em 17 de setembro de 2010. O parecer técnico nº 18 731-301 – 16/16, do Biólogo Sérgio Brazolin responsável pelo Laboratório de Preservação e madeiras e Biodeterioração de Materiais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e equipe, diz como conclusão: “A árvore de Figueira apresentava processos de deterioração em galhos causada por organismos xilófagos, recomendando-se o monitoramento para verificação de evidências objetivas associadas ao risco eminente de queda/ruptura, além de outras práticas de manejo.” E acrescenta algumas recomendações no cuidado com a árvore. Quem sabe se uma vez tombada, a Figueira da Glette não tenha direito a um entorno todo seu, devidamente cuidado pela Prefeitura (ou até pelo Departamento de Botânica da USP), onde seria plantado um jardinzinho colorido, com um banco repousante para que os que a visitam possam descansar, meditar, lembrar e até se emocionar. Alguns textos sobre a sua história certamente ajudariam a divulgar um pedaço da história da USP e histórias pessoais que certamente aparecerão. A placa com a identificação correta, conseguida com os donos do terreno, já temos. Falta a cerquinha que custa tão pouco que dá até vergonha não ter.

Por Neuza Guerreiro de Carvalho - março de 2011